Prefeitura dá início à recuperação da qualidade da água da Lagoa da Pampulha
A Prefeitura de Belo Horizonte assinou ontem, em evento no Museu de Arte da Pampulha (MAP), a ordem de serviço que dá início aos trabalhos de recuperação da qualidade da água da Lagoa da Pampulha. Os objetivos das ações são livrar a lagoa de florações de algas, de maus odores e da mortandade de peixes, enquadrando-a na Classe 3, conforme normatização do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o que permite, por exemplo, a prática de pesca amadora e iatismo, atividades em que o contato com a água é esporádico e a possibilidade de ingestão, reduzida.
“Esse é um momento histórico para a cidade. Temos um consórcio muito qualificado, com profissionais sérios, que utilizam tecnologias já testadas em outros locais no Brasil e no mundo”, disse o prefeito Marcio Lacerda, que destacou que esse trabalho é fundamental para cumprir parte dos compromissos com a Unesco em relação ao título de patrimônio da humanidade que pode ser recebido pelo Conjunto Arquitetônico da Pampulha.
A recuperação da qualidade da água da lagoa é uma ação do Programa Pampulha Viva, financiado pelo Município junto ao Banco do Brasil e ao BDMG, e conta, também, com investimentos da Copasa. As metas de qualidade da água deverão ser alcançadas em dez meses e, por força de contrato, mantidas no mesmo padrão por mais 12 meses. Os trabalhos de recuperação da qualidade da água da lagoa serão executados pelo consórcio Pampulha Viva (composto pelas empresas CNT Ambiental, Millennium Tecnologia Ambiental e Hydroscience). A PBH vai investir cerca de R$ 30 milhões nesse serviço, que será supervisionado pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura e pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap).
Tratamento
Segundo o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Josué Valadão, o trabalho começará a ser executado imediatamente e todas as tecnologias utilizadas estão certificadas pelo Ibama. “Esse processo será feito com o lançamento de dois produtos. Um elimina o fósforo existente na lagoa, fruto de anos de esgotamento sanitário, e que serve também como alimento de algas. O segundo produto combate a matéria orgânica presente na água, que consome oxigênio e acaba eliminando a fauna aquática”, explicou.
A primeira etapa dos trabalhos compreende coletas e análises de água e de sedimentos. As amostras serão enviadas a um laboratório na Alemanha e a outros dois no Brasil (um em Minas Gerais, outro no Rio Grande do Sul). A partir dessas análises, será elaborado um diagnóstico das condições da água. A produção e a atualização permanente desse diagnóstico serão essenciais para a caracterização dos avanços alcançados ao longo dos trabalhos.
Para garantir a inativação do fósforo – principal nutriente limitante da lagoa – será utilizado um produto denominado Phoslock, que vai possibilitar a redução do índice de cianobactérias, algas, clorofila A e alguns metais pesados presentes na água. Como complemento, outro produto, o Enzilimp, será utilizado para reduzir os coliformes e a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO).
A aplicação do Phoslock na Lagoa da Pampulha será a terceira experiência com o produto no Brasil. Esse tratamento foi testado no Lago do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Imbé-RS, e no Lago Dourado, responsável pelo abastecimento da cidade de Santa Cruz do Sul-RS. Nas duas experiências, houve redução drástica do índice de fósforo na água já nos primeiros dias após a aplicação.
Já o Enzilimp foi aplicado recentemente na descontaminação da Marina da Glória, no Rio de Janeiro, na preparação do evento teste de vela, visando às Olimpíadas deste ano. Em outros países esses produtos vêm sendo utilizados, com sucesso, como, por exemplo, na despoluição dos lagos que sediaram provas nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e de Londres, em 2012.
O programa
O Programa Pampulha Viva integra o Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Bacia da Pampulha (Propam), que tem como objetivo promover o desenvolvimento ambiental, urbano e econômico da Bacia Hidrográfica da Pampulha. Na primeira etapa do programa, foram retirados 850 mil metros cúbicos de sedimentos da lagoa. O trabalho de desassoreamento, realizado ao longo de um ano, foi concluído em outubro de 2014. Para assegurar a manutenção do desassoreamento, será lançado um edital de licitação para a retirada de 115 mil metros cúbicos de sedimentos por ano, a partir do segundo semestre de 2016, por um período de quatro anos.
Também no âmbito do programa, a Copasa vem executando obras de implantação e complementação da infraestrutura de esgotamento sanitário na bacia hidrográfica, em parceria com os municípios de Belo Horizonte e Contagem. Esse trabalho inclui a identificação e a efetivação de potenciais ligações domiciliares ao sistema, além da eliminação de ligações clandestinas de esgoto à drenagem. Conforme compromisso assumido pela Copasa, serão alcançados, respectivamente em junho e em dezembro de 2016, níveis de cobertura na coleta e interceptação de esgoto sanitário na bacia da Lagoa da Pampulha, de 90% e 95%.
Além disso, a Sudecap realiza diariamente a limpeza do espelho d’água da lagoa, com a utilização de dois barcos e uma balsa. O volume diário de lixo recolhido é de cerca de 10 toneladas durante o período de estiagem e de 20 toneladas no período chuvoso.